Sexta-feira, 24 de Outubro de 2008
Porquê Não Privatizar

Este texto foi escrito no âmbito de um encontro organizado pelo STAL no Fundão. Nesta cidade a distribuição de água está em vias de ser privatizada.

 


 

A CUDAP – Comissão de Utentes para Defesa da Água Pública luta nos concelhos de Carregal do Sal, Mortágua, Santa Comba Dão, Tábua e Tondela contra a distribuição de água pelo sector privado.

A Águas do Planalto SA, empresa do grupo Águas de Portugal, é detentora, para estes 5 concelhos, de um contrato que lhes garante uma situação de exclusividade desde o início de 1998. Contracto este com o prazo inicial de 15 anos, tendo recentemente prorrogando este período para 30 anos, até 2028. Assim os actuais presidentes de câmara comprometeram os municípios que representam por ainda mais 5 mandatos.

Ao longo dos anos esta empresa tem demonstrado a sua verdadeira missão: a obtenção de lucros com a gestão deste serviço público ignorando completamente nesta contenda o serviço básico que é a distribuição de água para consumo humano e o seu utente.

Do alto do seu trono monopolista esta empresa tem violado das mais variadas formas os direitos dos utentes, usando e abusando da sua exclusividade e do prazo de 20 anos sobejantes de contrato para impor a sua óptica de lucro como documentam os seguintes exemplos:

I.            No Inverno 2004/05, em virtude de um frio mais acentuado, foram vários os contadores que se partiram, devido ao congelar da água no seu interior. A empresa procedeu a uma rápida intervenção cobrando cerca de 110€ por cada contador substituído. Contador esse pelo qual o utente pagava perto de 45€ por ano de aluguer. A justificação da empresa para a “culpa” do utente era a falta de condições de acondicionamento do contador. Acontece que a colocação dos contadores é e sempre foi feita pela empresa ou pelas câmaras, sendo o utente completamente alheio às condições em que esta era feita;

II.            Na factura da água os utentes pagam uma «sobretaxa do artigo 21º do contrato» com o valor inicial (Maio de 2006) de 12€ por ano, actualizáveis anualmente pelo valor da taxa de inflação. Este 1€ por mês destina-se a pagar o deslize financeiro que ocorreu aquando da construção da Barragem do Paúl, utilizada para a captação de água.

III.            Em meados de 2005 a empresa procedeu ao encerramento de todos os fontenários que estivessem ligados à rede pública. Esta atitude foi tomada a pretexto do abuso que ocorreria na sua utilização. Após intervenção de um movimento popular que redundaria na constituição da CUDAP, foi assumida a reabertura de um fontenário por cada povoação – nalguns casos manifestamente insuficiente – mas com a colocação de contadores. As Juntas de Freguesia ficam assim obrigadas ao pagamento de algo que sempre foi de todos. De forma a evitar a contestação de algum Presidente de Junta as autarquias assumiram transferir dinheiro para cobrir esta nova despesa. De referir que, do valor da factura, só 10% a 20% é que correspondem à parcela da água consumida. Os restantes 80% são taxas, sobretaxas e outras mensalidades.

IV.            Do contrato de concessão faz parte a obrigatoriedade de abertura de um posto de atendimento em cada sede de Concelho. Se isto foi a realidade no início do período de concessão, recentemente a empresa procedeu ao encerramento de todos estes balcões. Agora, quem tenha assunto a tratar com a empresa, deve dirigir-se à sede da mesma. Acontece que esta fica numa das “pontas” da região abrangida, distando mais de 40km de algumas zonas. Numa região com um índice de envelhecimento de 185 (1,85 pessoas com mais de 65 anos para cada uma com menos de 15) a não proximidade dos serviços é inaceitável. A remota localização da sede empresa e a inexistência de transportes públicos impossibilita que não tenha viatura própria se possa aí deslocar.

Por certo, desta empresa, podemos contar com um continuar na procura do aumento do lucro, sempre disfarçado do argumento de optimização do serviço. Lucro esse que é garantido pois o investimento realizado é mínimo pois todas as obras e reparações são responsabilidade das autarquias, que contrata com a concessionária esse serviço. Assim a Águas do Planalto gere as obras e executa as reparações e cobra-se por isso.

De acordo com o RASARP – Relatório Anual do Sector das Águas e Resíduos «em 2006, o volume de negócios da empresa representa apenas 36% do obtido em 2005, devido ao fim da execução das obras que a empresa realizou por conta da concedente e que tem vindo a registar nas prestações de serviços». Daqui podemos concluir que a empresa cobrava para gerir as obras que lhe eram encomendadas. Assim se compreende que em 2005, segundo o mesmo relatório, a empresa tenha obtido o melhor resultado líquido sector. Por certo muitas outras manobras geradoras de lucro haverá ainda escondidas.

Com o objectivo de conhecer a fundo a realidade desta concessão a CUDAP move esforços desde Janeiro deste ano na tentativa de obtenção do contrato. Este processo tem sofrido toda uma série de entraves. O que se pretende com estas dificuldades é criar um cada vez maior distanciamento dos utentes, impossibilitando-lhe saber seja o que for sobre o grande negócio do séc. XXI.

A CUDAP compromete-se, não só com os utentes destes 5 concelhos, mas com todos utentes do País a lutar pelo regresso à responsabilidade pública do sector das água e a dar luta cerrada aos novos processos privatização na mira do governo.

Em Defesa da Água Pública!

 


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publicado por Mário Lobo às 21:00
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